quarta-feira, 30 de março de 2011

pastor metáfora.

A poesia de Alberto Caeiro, o mestre dos heterónimos de Pessoa, reflecte o espírito bucólico e de extrema simplicidade, tendo sempre por base a Natureza como elemento fulcral. Caeiro é, característicamente, anti-metafísico, uma vez que recusa o pensamento estruturado e intelectualizado - "Pensar incomoda como andar à chuva" - constituindo a realidade tudo o que é passível de ser observado ou sentido (os cinco sentidos têm, por isso, papel fundamental na compreensão do mundo) - "Só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido".
"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."  Estes aspectos de Alberto Caeiro são visívaeis na sua poesia através da ausência de recursos estilísticos: a sua escrita é, deste modo, sui géneris, demonstrando com uma simplicidade levada ao extremo tudo o que é observável. Desta forma, é adepto do versilibrismo, com um ritmo lento mas espontâneo, onde predomina a linguagem informal.
É, igualmente, contra a interpretação subjectiva da realidade (o que pressupõe uma intelectualização prévia, e, portanto, uma contradição na sua filosofia).
Poeta da Natureza, renova-se sucessivamente, priveligiando a simplicidade da vida rural. A sua máxima é a Aurea Mediocritas, idealismo segundo o qual a felicidade apenas é possível se se viver de forma tranquila, aproveitando os pequenos prazeres da vida e não ambicionando para além do que já se tem. 
Para Caeiro, o presente é  a única forma de tempo relevante: nem o passado nem o futuro são importantes para a compreensão do mundo pois para este heterónimo, a vivência da passagem do tempo não existe - carácter intemporal. No entanto, verifica-se uma atracção pela infância, símbolo de pureza, simplicidade e inocência, isto porque a criança usa apenas os sentidos para criar a sua própria perspectiva do que a rodeia. dado que não é, ainda, capaz de intelectualizar a realidade.

Dos cinco sentidos, destaca-se a importância do olhar, do acto de ver: o poeta é caracteristicamente deambulante,passeando para observar o mundo natural, simplesmente para sentir. Como tal, encontra-se em plena harmonia com a Natureza, sendo pagão e panteísta.
Apesar de o presente representar um papel crucial, o ciclo da vida é integralmente respeitado e aceite por Caeiro, uma vez que segue a ordem natural das coisas: "Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado".

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