quarta-feira, 30 de março de 2011

sossegadamente.

Ricardo Reis, mestre do classicismo, sereno, de índole epicurista, aceita de forma calma e consciente a efemeridade de todas as coisas. Vive moderadamente, impedindo todas as perturbações que a vida sugere, tentando alcançar o equilíbrio. Como tal, recusa as paixões assoberbadas, as emoções fortes e tudo o que possa provocar dor/extrema felicidade a médio prazo. Tal acontece porque Ricardo Reis é seguidor da doutrina Epicurista e Estoicista e, portanto, deve aceitar a morte sem grandes solavancos; desta forma, minimiza o sofrimento durante a sua vida, para que a sua morte e a de entes queridos provoque pouca dor. É um epicurista triste, pois deseja fazer jus ao "carpe diem", como forma de atingir a felicidade, mas sem querer ceder aos impulsos, aos instintos. Assim, adopta um "carpe diem moderado", vivendo "sempre pela metade".
O poeta absorveu a lição do seu mestre, pelo que é fã do paganismo espontâneo, cultivando um neoclassicismo neopagão (os deuses habitam em todas as coisas). Recorre, inúmeras vezes, à mitologia greco-latina e o tema central dos seus poemas é a fugacidade/efemeridade da vida. Acredita piamente que o destino de cada ser já se encontra traçado à nascença, pelo que nada o pode mudar, nem mesmo os deuses - "acima dos deuses só o fado".
Na poesia de Reis, é possível detectar-se um classicismo erudito, metódico, recorrendo a uma linguagem alatinada de inspiração Horaciana. Portanto, as Odes marcavam o seu estilo, assim como um espírito trabalhado, elegante e um pouco pesado, sério. Atribuía extrema importância ao acto de contemplar, ou seja, ver a realidade de forma intelectual.
As suas ideias lúcidas, expostas de forma sossegada, com os olhos postos no "fatum" fazem com que a obra de Reis seja dona de um carácter singular.

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