terça-feira, 1 de março de 2011

Teoria de Gestalt - a Teoria da Forma

"The basic thesis of gestalt theory might be formulated thus:
there are contexts in which what is happening in the whole cannot be deduced from the characteristics of the separate pieces, but conversely; what happens to a part of the whole is, in clearcut cases, determined by the laws of the inner structure of its whole."
(Max Wertheimer;1924)

A percepção visual é um conceito complexo e nem sempre consensual, uma vez que não se cinge apenas ao que é captado pelo olho humano; por outras palavras, não se refere somente à imagem formada na retina, mas sim a algo bastante mais crítico, razão pela qual se tem tornado, ao longo dos tempos, uma temática aliciante a nível de estudo: “O que vemos realmente?” é a questão primordial intrinsecamente relacionada com o conceito: "What exactly happens in the brain when certain psychological events take place? Even if we knew in detail what areas of the tissue are involved in particular achievements, we would still not be able to answer that question."
 (Wolfgang Köhler: The Present Situation in Brain Physiology; 1958)

Numa análise inicial da percepção humana, levada a cabo desde meados do século XIX até inícios do século XX, os estudos neste campo de investigação tinham a particularidade de se centrarem na análise atomista, isto é, um determinado conjunto era procurado partindo-se à priori à busca dos seus elementos. Nesta época, portanto, imperava a ideia base de que as partes eram os constituintes únicos de um todo. Seguindo esta linha de pensamento, para a percepção de uma imagem ser possível para o Homem, apenas era necessária a compreensão das suas componentes (processo este determinado e definido pelas experiências anteriores do indivíduo, por exemplo). No início do XX, no entanto, uma nova concepção teórica surgiu: a Teoria de Gestalt (ou Teoria da Forma), cujo significado e cinge a dois simples vocábulos, "configuração" e "padrão", em total oposição às concepções do passado. A referida teoria teve origem nas ideias de psicólogos de nacionalidade alemã e austríaca, sendo estes Felix Krüger, Wolfgang Köhler, Christian von Ehrenfels e Kurt Koffka. Posteriormente, a teoria deixou de abranger apenas fenómenos ligados à psicologia para se tornar uma corrente de pensamento filosófico, entre 1930/1940 com Max Wertheimer. O princípio fundamental segundo o qual se rege a Teoria da Forma é o seguinte: “não se pode ter conhecimento do todo através das partes, (mas) sim das partes através do todo”, ou seja, "‘A + B’ não é simplesmente ‘(A+B)’, (existe) um terceiro elemento ‘C’ que possui características próprias.” (MOURA, Ana Clara Mourão e RIBEIRO, Rosemary Campos). Deste modo, seguindo esta abordagem, os elementos dos conjuntos são regidos por leis próprias, e não o contrário. Na verdade, é fácil compreender que apenas através da percepção da totalidade é possível entender e descodificar um conceito (quer este seja, ou não, uma imagem).
Relativamente à Teoria de Gestalt, foram formuladas diferentes concepções, designadamente a corrente dualista (origem na Áustria) e a sua divergente, a corrente monista. Enquanto que a primeira corrente identificou dois processos na percepção – a sensação (formato objectivo da imagem, por exemplo) e a representação (aquisição de um sentido, fruto da interpretação do Homem), a corrente monista (de origem alemã), é o oposto do dualismo, ou seja, a corrente supra-referida defende que a sensação e a representação ocorrem em simultâneo, e não separadamente. Em suma, podemos considerar que o processo da percepção visual só é finalizado com o complementar da percepção sensorial e representativa.
As investigações no ramo levaram à adopção das denominadas “gestalt laws of perceptual organization”, ou Leis de Gestalt, representativas do comportamento natural do cérebro humano, quando age no processo de percepção e segundo as quais se rege a percepção humana das formas.

A Semelhança: é a lei que se destaca por ser a mais familiar/óbvia: segundo a mesma, tal como a designação indica, objectos semelhantes apresentam uma forte tendência para se associar/unir. Tal pode ocorrer tanto a nível de cor, como textura ou sensação dos objectos.


A Proximidade: A união dos distintos elementos é realizada de acordo com a distância que separa uns componentes dos restantes. Elementos mais próximos tenderão, portanto, a formar grupos mais facilmente do que elementos dispersos.


A Boa Continuidade: Esta lei está inteiramente relacionada com a coincidência de direcções/alinhamento. Se os elementos de uma imagem apontarem no mesmo sentido, a compreensão da mesma é facilitada. Deste modo, dois elementos que se encontrem alinhados (não basta estarem próximos) transmitem a ideia de relação entre eles.


 A Pragnância: É a lei mais sintética segundo a qual todas as formas (sem excepção) tendem a ser mais facilmente percebidas quando se encontram representadas na sua forma mais simples. É frequentemente designado como o “princípio da simplificação natural da percepção”. A ideia-chave implícita é: maior simplicidade, maior assimilação.


A Clausura: Segundo esta lei, forma-se uma figura delimitada quando esta se fecha sobre si mesma. Ou seja, através de um conjunto de processos o cérebro humano percepciona uma figura incompleta como completa. "An incomplete task leaves a trace which is unstable, comparable to a non-closed figure. Such figures possess, as we know, a tendency towards closure, and we find that this tendency is also a characteristic of the trace of an incomplete act." (Kurt Koffka; 1928)

A Simetria: O agrupamento de elementos simétricos é visivelmente mais simples do que a união de componentes opostos (não simétricos).


A experiência passada constitui, igualmente, um factor preponderante na percepção da forma, constituindo parte do pensamento pré-Gestáltico. Deste modo, esta encontra-se intrinsecamente ligada ao modo como certas formas são compreendidas: tal interpretação depende, por exemplo, de um conhecimento prévio da(s) referida(s) forma(s). Em suma, esta experiência favorece a compreensão metonímica: se tivermos visto, numa fase anterior, a forma inteira de um determinado elemento, aquando da visualização de uma parte deste, reproduziremos, de imediato, a forma íntegra na memória.
A organização e a composição dos elementos são cruciais na arte figurativa, sendo as mesmas percepcionadas e estudadas por artistas consagrados como DaVinci, em particular no que diz respeito à disposição de componentes segundo uma determinada ordem definida à priori, destacando esses elementos ou ocultando-os.
Os mesmos elementos da figura artística são aplicáveis à comunicação visual. Uma imagem tem a capacidade suis géneris de ultrapassar o impacto de um artigo ou  de um discurso falado (desta universal percepção advém a famosa frase “Uma imagem vale mais que mil palavras”).  É através da complexa união entre elementos de uma imagem e texto que a propaganda surge, sendo a publicidade uma clara prova do poder da percepção visual nas sociedades contemporâneas.

Bibliografia consultada:
- ARNHEIM, Rudolf. Arte & Percepção Visual. Pioneira, 1998.
- MULTIPLY  (página consultada a 25 de Fevereiro de 2010). Teoria da Gestalt (ou teoria da forma), [em linha]. Disponível em: URL: http://kinhocohen.multiply.com/journal/item/4/TEORIA_DA_GESTALT_Ou_teoria_da_forma
- WIKIPEDIA (página consultada a 25 de Fevereiro de 2010). Gestalt, [em linha]. Disponível em: URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt
 - A TEORIA DE GESTALT (página consultada a 28 de Fevereiro de 2010). Disponível em: URL: http://www.leonelcunha.net/aulas10m/documentos/comunicacao_visual/gestalt_introducao.pdf
- GESTALT (página consultada a 28 de Fevereiro de 2010). Disponível em: URL: http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/gestalt/gestalt-poligrafo.pdf
  - INTERACTION DESIGN (página consultada a 28 de Fevereiro de 2010). Disponível em: URL: http://www.interaction-design.org/encyclopedia/gestalt_principles_of_form_perception.html

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