quarta-feira, 30 de março de 2011

o indisciplinado.

Álvaro de Campos é o heterónimo que surge espontaneamente em Fernando Pessoa quando este é invadido por um súbito e incontrolável "impulso para escrever”. Discípulo de Caeiro, Campos é o oposto de Ricardo Reis. Sendo o "filho indisciplinado da sensação", para Campos a sensação é o meio que permite o entendimento do mundo: é a totalidade das coisas. A base para a sua poesia é, portanto, o sensacionismo, sendo o ponto central da realidade da vida - "Sentir tudo de todas de todas as maneiras".
Sendo engenheiro naval e adepto de viagens, Campos é vanguardista e cosmopolita - exalta, ao longo da maioria dos seus poemas, o seu gosto pelo futuro/inovação, pela civilização moderna e pelo progresso científico-tecnológico. É, por isso, um futurista nato. Relativamente ao seu estilo, este é amplamente torrencial, exagerado, levado ao extremo, sendo característicamente violento e até mesmo delirante. O ponto de vista adoptado é o de um homem citadino, descontente com o modo de vida que leva. Campos é, assim, ambicioso - tão ambicioso que, quando não alcança o pretendido, entra num estado de abolia total - 3ª fase do heterónimo. Nesta última fase, a que melhor o caracteriza, Álvaro de Campos relembra a infância há muito perdida (de um modo semelhante ao ortónimo). Poeta tipicamente modernista e sensacionista (nas Odes - Marítima e Triunfal), é invadido por um sentimento de abolia e tédio de existir, gerando uma angústia existêncial quase crónica (demarcada nos seus poemas através da auto-ironia utilizada).

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